Santo Antônio dá jeito

por Arlon Carlos

De 1º à 13 de junho, muita gente faz promessa para Santo Antônio. O santo famoso por promover casamentos, encontrar coisas desaparecidas e outros milagres é uma das santidades mais veneradas no Brasil – depois de São Francisco de Assis. Em Salvador, Santo Antônio é nome de bairro, de fortificação militar, de largo e de igreja. Todo ano, no mês de junho, o bairro de Santo Antônio Além do Carmo se torna um lugar de destaque na cidade. Os moradores do local se mobilizam para preparar os festejos em homenagem à ele. A Irmandade do Santo Antônio, responsável pelas comemorações, conta com a ajuda de muitos fíéis e devotos. A festa é em agradecimento às muitas graças alcançadas por quem um dia já precisou do santo ou que vem contando com sua proteção diariamente.

O santo dos pobres foi seguidor de São Francisco de Assis e era filho de família rica. Seu verdadeiro nome era Fernando de Bulhões y Taveira de Azevedo. Nascido em 1195, em Portugal, não se tem certeza se em Lisboa ou em Pádua, Antônio viveu pouco: aos 36 anos, morreu na cidade de Arcella. Até hoje, os devotos continuam a cultivar os ideais de solidariedade do santo, distribuindo pães para os necessitados. A escritora Mabel Velloso, irmã do cantor e compositor Caetano Velloso, é uma das mais fervorosas fiéis do ídolo, inclusive, no dia 13 de junho (aniversário de morte de Santo Antônio), ela costuma acompanhar a procissão, que segue pelas ruas do bairro, e assitir à missa campal. Na família de Mabel, isto é um costume muito antigo, que vem desde suas avós, Maria Clara Velloso e Júlia Muniz: “Ah, isso lá em casa já é de muito tempo. Além de mim, Bethânia e meu irmão Ricardo Velloso são devotos de Santo Antônio. Toda terça-feira, eu vou à Benção de Santo Antônio, na igreja da piedade, e lá distribuo pães, que são benzidos, para os que precisam da nossa ajuda. O Brasil está muito carente de solidariedade”.

Os adoradores de Antônio garantem que a fidelidade à ele tem rendido bons frutos. Não importa a forma como se trate o santo, com respeito ou com castigo, ele sempre atende o pedido. Uns querem casar, por isso até são capazes de por o santo de ponta à cabeça, e só o retiram desta posição depois que ele ajeita o casório. Outros dizem que isto é uma heresia e não gostam nem de pensar numa coisa dessas. É o caso, por exemplo, de Ana Maria Sales dos Santos, 55 anos, que veio de Alagoinhas com 10 anos de idade e há 20 mora em Salvador, no bairro do Santo Antônio: “Eu respeito muito meu santo, ele curou minha filha. Joceane (Sales Santos, 34 anos) já nasceu com asma. Há quase seis anos, Santo Antônio a curou. Eu me prostei de joelhos, pedindo com toda fé que ele me ajudasse, e ele me ajudou”.

Teve gente que foi para a terra do Cristo redentor para conhecer o santo, como é o caso de Nilzete Ferreira Costa, 70 anos. Foi no estado do Rio de Janeiro que ela se tornou uma das mais fiéis devotas do discípulo de São Francisco: “Eu estava numa lanchonete em Copacabana, em 1985, fazendo um lanche. Na hora de pagar a conta, olhei para minha bolsa e estava cortada. Tinham levado minha carteira, com todos os documentos e trinta reais. Atordoada, eu segui para o Leme. Lá tinha uma igreja da paróquia de Santo Antônio. Daí, eu entrei e fui rezar. Rezei com tanta fé para ele, que com o passar de horas, eu recebi um telefonema de uma delegacia de polícia me informando que tinham encontrado minha carteira e os documentos, só perdi os trinta reais”. Nilzete também é moradora do Santo Antônio. Já vive no bairro há vinte e cinco anos, onde não perde uma trezena em homenagem ao seu fiel protetor.

O frei Ronaldo Marques, 44 anos, há três à frente da paróquia de Salvador, diz que Santo Antônio é um mediador importante dos milagres, mas ressalta que o verdadeiro responsável é Deus. Ele destacou que, fora do Brasil, Santo Antônio não tem nenhuma ligação com o casamento. De acordo com o frei, em nenhuma de suas ladainhas há preces para se conseguir um marido. Ele fala que não condena esse tipo de ligação, por se tratar de uma poética popular, e afirma: “Santo Antônio tinha mesmo era vocação para a pobreza, para a vida religiosa, para a so-li-da-ri-e-da-de. Ele é conhecido no mundo inteiro pelo seu profundo conhecimento da bíblia e como o primeiro padre cônego da Igreja Católica. Ao ponto de o papa Pio XII, em 1946, lhe dar o título de doutor evangélico”. O pároco ainda falou que, nessa época, sua igreja é visitada por pessoas de vários outros bairros como:Pituba, Graça, Vitória, Barra e outras.

A paróquia de Santo Antônio Além do Carmo já existe desde 1642. Sua primeira igreja foi fundada em 1827, ficava ao lado esquerdo da fortaleza de mesmo nome e de costas para o largo. Atualmente, a igreja fica ao lado direito. A divindade tem muitos fãs ilustres. Além de Maria Bethânia e Mabel Velloso, Carlinhos Brown e Benito Gama (a mãe de Benito já reza a trezena há 52 anos). A fidelidade ao santo, que é o Ogum do candomblé, leva muitas pessoas a se dedicar a ele por anos. É assim com o juiz da irmandade do Santo Antônio, Clarindo Silva, que começou na paróquia como coroinha, aos 10 anos, e há 28 é devoto do santo. Clarindo diz que não vê nenhum mal nessa cultura a respeito de Santo Antônio: “O que importa realmente é o lado espiritual. Por o santo de cabeça para baixo é a mesma coisa de por uma fotografia para baixo, é apenas uma imagem. O que interessa é a fé e o respeito que você sente internamente”.

A popularidade de Santo Antônio se deve a sua grande generosidade e rapidez no atendimento às preces. Os devotos dizem que quando perde um objeto, o acha em dois minutos. Querendo um casamento, com uma semana. Se for uma cura, aí há de se fazer uma promessa que se pague ano a ano. Um exemplo é o de um dos colaboradores da festa, Luís Humberto Rehm, que todo ano monta uma barraca para vender bolo, salgado, torta, refrigerante, suco e licôr. Toda renda que Luís tem com as vendas é revertida para a paróquia. Ele é morador do Barbalho e, desde a década de 80, monta a barraquinha para contribuir com a igreja. Há algum tempo, sua esposa passou por uma cirurgia, por causa de problemas neurológicos, e ele atribui o sucesso da operação à Santo Antônio. A mãe de Luís já adorava o santo e, inclusive, seus restos mortais encontram-se no ossuário da igreja.

O envolvimento com as comemorações acontece até com quem não é devoto do padroeiro. A pernanbucana Rosa Souza Marques, de 24 anos, há dois morando no bairro, acompanha seu marido, que é sobrinho do frei Ronaldo, e ajuda na venda de terços, bótons, medalhas, chaveiros e pulseiras. Rosa é católica, mas é devota de São José.

Hino de Santo Antônio
Antônio santo/ De jesus querido/ Valei- me sempre/ No maior perigoRegai por nos/ Oh! Antônio/ Lá no céu/ Onde reina alegria/ Junto de deusAntônio santo/ De jesus querido/ Valei- me sempre/ Com vosso amparo
(junho de 2005)

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